SÃO PAULO - A tendência de queda da taxa básica de juros (Selic) para níveis abaixo de 9% estimula os depósitos em poupança frente a outros tipos de investimentos, como fundos de Renda Fixa, já que não possui taxa de administração ou incidência de imposto de renda. Dessa forma, o mercado de crédito imobiliário pode ser beneficiado, já que há a possibilidade de esticar o prazo de esgotamento dos recursos, de 2013 para 2015, aponta a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
Ainda segundo a associação, as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Certificados de Crédito Imobiliário (CRI) já funcionam como fontes complementares, e no próximo ano chegam as Letras Financeiras Imobiliárias (LCI).
No primeiro trimestre deste ano, o crédito imobiliário para compra e construção avançou 9,9%, chegando à cifra de R$ 17,6 bilhões, na comparação com o mesmo período do ano passado. No acumulado de 12 meses, o volume de recursos concedidos atingiu R$ 81,5 bilhões, evolução de 31%. O total de unidades, no entanto, reduziu-se 1%, indo de 105,8 mil para 104,8 mil no ano.
Apesar da expansão moderada no trimestre, os empréstimos habitacionais ganham espaço no Produto Interno Bruto (PIB), de 4,9% em dezembro para 5,1% em fevereiro de 2012. Segundo o presidente da Abecip, Octavio de Lazari Júnior, o potencial de crescimento de 30% ainda é mantido para este ano. Na América Latina, o crédito imobiliário com relação ao PIB corresponde a 1,6% na Argentina, a 11,2% no México e a 18,5% no Chile.
No que se refere a poupança, principal fonte de recursos do segmento, o saldo ao final do primeiro trimestre de 2012 superou os R$ 337 bilhões, acréscimo de 10,9% sobre o mesmo período do ano passado. O positivo desempenho dos depósitos em março, R$ 2,527 bilhões, permitiu que a captação líquida do primeiro trimestre atingisse R$ 19 bilhões. Octavio de Lazari, presidente da Abecip, explica que, por enquanto, não é percebido um aumento no volume por conta da queda da Selic, mas sim uma alta sazonal. "Temos acompanhado as saídas e entradas de recursos e, por enquanto, não vimos crescimento acentuado que pudesse caracterizar uma fuga dos fundos. A preocupação sobre o funding da poupança não ser suficiente está com prazo de 2013. Se mantiver a redução dos juros, haverá mais recursos na poupança e esticará para 2014 ou 2015".
Além da poupança, o mercado habitacional já utiliza funding complementar, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), que já somam R$ 50 bilhões, e Certificados de Crédito Imobiliário (CRIs), com R$ 28 bilhões. "Fontes alternativas já são adotadas, mas só não são maiores porque a poupança ainda é um funding mais barato", diz Lazari.
O presidente da Abecip ainda revela que desde o ano passado há conversas sobre o covered bond, que no Brasil recebe o nome de Letra Financeira Imobiliária (LFI) e consiste em títulos lançados por uma instituição financeira. "Há conversas com a CVM [Comissão de Valores Mobiliários] para haver uma atratividade para o investimento. Também que tenha o mesmo arcabouço jurídico das Letras Financeiras, que economizará tempo. Acreditamos que em 2012 deve estar completamente desenhada e a partir de 2013 comece a ser utilizada pelo mercado."
Juros
Ontem, a Caixa Econômica Federal reduziu as taxas de juros no imobiliário, que começam a valer a partir do dia 4 de maio .
Para imóveis de até R$ 500 mil, financiados dentro do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), os juros passam de 10% para 9% ao ano (a.a.) para todos os clientes; para 7,9% a.a. para aqueles que possuem conta salário; e para 7,4% a.a. para o cotista do FGTS.
Já os empréstimos para habitações fora do SFH, com valor acima de R$ 500 mil, as taxas caem de 11% para 10% a.a. para todos os clientes. Aqueles que possuem relacionamento ou conta salário, o juro reduz para 9% a.a.
O presidente da Abecip opina que ainda não é possível saber se os outros bancos seguirão. "O imobiliário já deixa uma margem de spread muito apertado, porque tem o rendimento de 6,17% da poupança, mais custos, juros e sobra espaço de 1,5%."
Dos balanços já divulgados, Itaú Unibanco e Bradesco, apresentaram crescimento significativo na carteira de imobiliário. O Itaú acumulou saldo de R$ 14,591 bilhões, acréscimo de 57,3% e 8,5% ante o primeiro e quarto trimestre de 2011, respectivamente. Já o Bradesco evoluiu 10,59% no trimestre, para R$ 7,777 bilhões, expansão de 68,63% ante o período de janeiro a março de 2011.
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