ALTA DA INADIMPLÊNCIA NO SETOR IMOBILIÁRIO É FOCO DE ESCRITÓRIO
Andréia Henriques
SÃO PAULO
Depois da explosão do mercado imobiliário, escritórios de advocacia aproveitam o nicho de mercado que já se abre com a inadimplência dos consumidores. É o caso do Boin Aguiar & Soneghet Vlavianos Advogados, fundado em 2009 com foco no direito imobiliário e na inadimplência contratual. Atendendo a grandes e médias incorporadoras, a banca, no entanto, tem um diferencial: a filosofia é a da mediação e conciliação. "Focamos na resolução da questão, com uma linguagem mediadora. As empresas estão preocupadas em privilegiar a negociação e a conversa e em considerar as dificuldades de seus clientes", afirma a sócia Carla Zamith Boin Aguiar.
A briga no Judiciário é a última saída, mas antes há um trabalho de tentativa de diálogo e consenso. "O litígio é o ponto-limite, para situações inevitáveis. Mas com a base anterior de atuação temos um resultado melhor. Ela demonstra a boa-fé das empresas que tentaram solucionar o conflito e respeitaram o cliente", afirma Carla Aguiar.
Segundo as advogadas, o próprio Judiciário já tem mudado sua visão e levado em conta o diálogo e a solução diferenciada - além de ter interpretado que nem sempre o consumidor é o hipossuficiente (que tem o mínimo de condições financeiras) e que o mercado também depende dos pagamentos para pagamento de seus empregados.
Não havendo acordo, são colocadas em prática as medidas cabíveis, como leilão extrajudicial, ação de rescisão na Justiça ou rescisão unilateral do contrato. De 60% a 70% dos casos do escritório são solucionados e não precisam ser levados à Justiça.
"Quando os devedores são investidores que compraram as unidades apenas para especulação e não honraram com seus compromissos, já encaminhamos para o Judiciário para não haver perda de tempo", ressalta Carla. No entanto, quando existe diálogo, são abertas possibilidade de alternativas criativas. "Na mesa de negociação as possibilidades são maiores e o comprometimento também."
A sócia Adriana Vlavianos afirma que a proposta é fugir do conceito de escritório de cobrança. "O objetivo é defender o interesse da incorporadora, com foco especial à inadimplência no mercado imobiliário, mas escutando os clientes das empresas", afirma.
A aposta é seguir pelos próximos anos nesse nicho. "A tendência é de os escritórios se especializarem. No nosso caso, com o boom no setor imobiliário, a questão da inadimplência só deve crescer e chegar a níveis elevados. Estamos sempre vendo os reflexos do constante lançamento de empreendimentos. É uma bola de neve", diz Adriana.
A advogada afirma que antigamente as incorporadoras tratavam a questão da inadimplência com as empresas de cobrança, como são cobrados, por exemplo, os cheques sem fundos. "Hoje essa falta de pagamento é tratada de forma diferenciada das demais cobranças. As incorporadoras estão mudando e dando atenção a isso", diz Adriana.
O escritório lida com inadimplência do comprador e dos fornecedores de produtos e serviços nas obras particulares. Os clientes são, em sua maioria, incorporadoras de grande porte.
Além do imobiliário, outro carro-chefe do escritório é o direito de família, também com enfoque da linguagem mediadora do escritório - uma visão inovadora em uma área que usualmente traz um caráter de briga. "Prestamos um auxílio e uma consultoria quando, por exemplo, um casal pensa em se separar. Junto a isso existe acompanhamento para dizer quais os próximos passos e diminuir a tensão. Tudo é feito para propiciar o diálogo com a outra parte", destaca Carla.
A banca não atua no contencioso no direito de família; portanto, não advoga para as partes nesses casos. "É por uma questão ética. Ao iniciar o diálogo, firmamos um compromisso de que não vamos advogar para uma parte ou outra", explica Carla.
Segundo Carla, as questões em direito de família, se discutidas no Judiciário, trazem desgaste emocional que aumenta o conflito e por vezes não traz solução.
Altamente especializada, a banca pode ter nova área no próximo ano. Com apenas dois anos de atuação, já aumentou seu faturamento em 2011 em mais de sete vezes e a expectativa é manter o ritmo aquecido.
O escritório conta hoje com oito advogados (duas sócias) e já está em processo de expansão. Pela alta demanda de clientes, a banca deve triplicar seu número de profissionais até o início de 2013. O investimento, portanto, do próximo ano está voltado à infraestrutura interna e contratação de profissionais. A atuação do escritório é nacional, por meio de escritórios parceiros ou até mesmo por meio do uso de ferramentas que possibilitam mediações virtuais. Existe a possibilidade de estabelecer em 2013 uma unidade no Rio de Janeiro, local com inadimplência crescente.
O atendimento, por conta da especialização, é individualizado e personalizado. "Percebemos na abordagem pessoal com as incorporadoras que elas demandam um trabalho pessoal e diferente também com seus clientes", destacam as advogadas.
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